sexta-feira, 19 de junho de 2009

Memorial

“Não gostava da escola... gostava da rua...”


Quando estava com 5 anos ingressei no pré-primário (hoje alfabetização) e tive uma professora que se fez imortal para mim. Era tia Lia, uma contadora de histórias, que desfrutei até a minha quarta série.
Com tia Lia, aprendi a estar no centro das atenções e nos finais de tarde juntava os meus amiguinhos da rua São José; sentávamos nas grandes pedras azuis que sobraram do alicerce da minha casa e lá estava eu: contando histórias de Maria Pele de Burro, Cinderela, João e Maria e outras ouvidas da voz rouca e amável daquela mulher que sem saber foi por muitos anos uma grande referencia para aquela menina que só queria saber de brincar de casinha, baleado, pega-pega, gude e contar estórias para a galerinha da rua.
Muitas vezes eu era comparada a minha irmã, que ao contrário de mim, passava a maior parte do tempo em casa, às vezes costurando roupinhas de bonecas, às vezes lendo os livros que ganhava de minha tia Nilza e que escondia para que não os rasgasse.
Cresci com o estigma de não gostar muito de estudar. Preguiça... diziam alguns! Mas a verdadeira razão pela qual eu não ligava muito para os livros é que a paixão pela aventura borbulhava em minhas veias tão intensamente que não sobrava tempo para os livros. Lembro como era gostoso viver as aventuras do mundo infantil.
O tempo passou, alguns interesses foram substituídos, mas outros permaneceram vivos dentro de mim, o meu robby predileto ainda era o mesmo, conversar com as amigas sobre amenidades. De preferência com uma historinha pelo meio do colóquio (rsrs).
Até a 8ª série ainda acreditava que o estudo não era o meu “forte”, o que mais gostava na escola era a hora do recreio. Estudava em uma escola pública do município e um dia a professora de português pediu que fizéssemos uma “redação”, não fiquei preocupada, pois isso era muito comum, nos escrevíamos ela dava um visto e nem sequer lia as nossas produções. Mas naquele dia foi diferente. Disse ela: _ “Vou abrir a caderneta e sortear um nome para ler a redação em voz alta”, dá pra imaginar que nome estava lá?! Isso mesmo, o meu. Fiquei com vergonha, achei que todos iam zombar, mas não tinha outro jeito, tive que ler. Então veio a surpresa, a professora me chamou e disse que só acreditava que eu mesma escrevi por que a produção foi feita naquele momento em sala de aula. Esse texto é lindo Rivane, você tem muito jeito pra escrever. Achei aquilo uma piada e só anos mais tarde, quando estava na faculdade, descobri que a leitura sempre fez parte da minha vida e que era o que eu mais gostava de fazer.
Quando estava cursando Lingüística I na Universidade descobri que aquilo era de fato o que eu queria fazer, mostrar aos meus alunos que eles já tinham dentro de si a alavanca para levantar o mundo: As PALAVRAS!
E há cinco anos, tento através do Programa GESTAR, transmitir aos colegas professores de Língua Portuguesa, como eles podem entender e ajudar seus alunos a descobrirem que já são de fato LEITORES e PRODUTORES. Tudo o que eles precisam é de alguém que os medeiem e através dos Portfólios vejo essa mediação acontecer.
Nas oficinas, os olhos brilham com o apoio dos TP’S, quando nos debruçamos em Dominique Maingueneau, Magda Soares, Ângela Kleiman, Antonieta Cunha, Lygia Bojunga, Quino, Ziraldo...
Com o passar dos anos tenho mais certeza que todo mundo é capaz de aprender, quando encontra alguém que sabe ensinar. Para mim, ensinar é aprender o jeito como o outro aprendi, é ter sensibilidade para perceber todo mundo aprendi alguma coisa.
Aprendi a “ler o mundo” primeiro através do contralto de tia Lia; depois nos estudos da Escola Dominical onde a Bíblia era debulhada e com ela a história da humanidade; outras vezes através da TV que mostrava um mundo tão distante do meu; mais tarde com a literatura e as aulas de história; mas principalmente com as conversas curiosas entre as amigas adolescentes!
Sempre amei a leitura, só não sabia disso!!!


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